LIÇÃO 09 - UMA IGREJA QUE SE ARRISCA
Texto Áureo: Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava a direita de Deus. Atos 7.55
Leitura Bíblica em Classe: Atos 6.8-15; 7.54-60.
Introdução: Seu nome e seu significado: A palavra "Estêvão" significa "coroa" ou "vitória", e esse nome à vitória e glória que ele representa diante de Deus. Suas virtudes e graça divina são vista no sentido dele ser "cheio de graça e poder", explicando que essa graça era um dom que o capacitava para sua missão. Seu ministério foi muito curto, mas no tempo que teve, ele realizou "prodígios" e "sinais" o que ressalta a capacidade sobrenatural de Estêvão, que operava com a autoridade de Deus por meio do Espírito Santo. O impacto de suas ações se destaca nos atos que eram "grandes" e "notórios", e que ocorreram em meio ao "povo", mostrando o impacto que ele tinha em sua comunidade. A figura de Estêvão, destaca-se não apenas no seu papel como mártir, mas também a profundidade de sua fé e o poder que Deus manifestava através dele. Ele foi um dos sete diáconos escolhidos pelos apóstolos para servir a comunidade, cuidando das necessidades dos mais pobres. Ele se destacava por sua sabedoria e por pregar a palavra de Deus com grande poder, o que gerou a oposição de alguns judeus. Acusado de blasfêmia, ele fez um discurso diante do Sinédrio (o tribunal judaico) em que recapitulou a história de Israel e confrontou seus acusadores. No final do seu discurso, ele teve uma visão de Jesus à direita de Deus. Ele foi arrastado para fora da cidade e apedrejado até a morte. Estêvão tornou-se o primeiro mártir cristão, e sua morte é lembrada por sua coragem, fé inabalável e por ele ter perdoado seus assassinos no momento final, seguindo o exemplo de Jesus.
1. ESTEVÃO E O SEU LEGADO NA IGREJA PRIMITIVA COM O RISCO DA FÉ.
Atos 6.8 - E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
Sua função inicial: Estêvão, foi escolhido para servir, cuidando da distribuição de alimentos para as viúvas gregas na igreja primitiva. A capacitação para esse serviço não veio de suas habilidades organizacionais, mas do fato de ele estar "cheio da graça e do poder do Espírito Santo". Isso mostra que, para a igreja primitiva, a qualificação espiritual era mais importante do que qualquer habilidade técnica. Essa plenitude do Espírito manifestou-se de forma impressionante. Ele não apenas servia mesas, mas também demonstrava sabedoria, realizava milagres e evangelizava com poder.
2. ESTEVÃO TINHA SABEDORIA DO ESPÍRITO QUE NINGUÉM PODE REFUTAR
Atos 6.9 — E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. Atos 6.10 — E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.
A interpretação sobre a Sinagoga dos Libertos é a mais aceita entre os estudiosos. Acredita-se que este era um grupo de judeus da Diáspora (da Dispersão) que tinham sido levados a Roma como escravos após as guerras judaicas e que, após serem libertos, retornaram a Jerusalém. É provável que eles tivessem formado sua própria sinagoga para manter sua identidade e tradições. A lista de lugares : Cirene, Alexandria, Cilícia — mostra que o conflito contra Estêvão era coordenado por judeus vindos de diferentes partes do Império Romano. A sua observação de que a Cilícia era a província de Saulo (Paulo) é um ponto crucial. Como um fariseu zeloso e nativo de Tarso (na Cilícia), Saulo provavelmente participava ativamente desta sinagoga e, assim, foi um dos principais oponentes de Estêvão, testemunhando sua morte e aprovando-a. A oposição a Estêvão não era apenas contra um pregador, mas contra um homem de grande caráter e habilidades notáveis. Sua capacidade de debate era tão poderosa que seus oponentes não conseguiam refutá-lo. O texto de Atos destaca a combinação perfeita entre a sabedoria humana de Estêvão e o poder capacitador do Espírito Santo. Essa dualidade é fundamental: não era apenas a sabedoria dele, mas a forma como essa sabedoria era usada pelo poder divino que tornava seus argumentos irrefutáveis e seus milagres tão impressionantes. Essa combinação mostra que Deus usa não apenas a fé, mas também os talentos e a inteligência de seus servos, quando eles estão cheios do Espírito.
3. ESTEVÃO COM ROSTO DE UM ANJO, EXEMPLO NA IGREJA QUE OUSA.
Atos 6.11 — Então, subornaram uns homens para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus. Atos 6.12 — E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e, investindo com ele, o arrebataram e o levaram ao conselho. Atos 6.13 — Apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei; Atos 6.14 — porque nós lhe ouvimos dizer que esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu. Atos 6.15 — Então, todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo.
Homens subornados e incitados por seus oponentes mentiram sobre Estêvão, garantindo sua prisão e seu julgamento diante do Sinédrio, o mais alto tribunal judaico. A Estratégia dos Acusadores, revela suas expertise ao acusá-lo de blasfemar contra Moisés. Essa acusação era estratégica porque, os saduceus, que controlavam o conselho, consideravam a Lei de Moisés a autoridade máxima. Para eles, desrespeitar Moisés era um crime gravíssimo. A acusação foi tão poderosa que incitou não apenas o conselho, mas também "o povo", mostrando a manipulação das massas. Essa cena é um eco de outros julgamentos bíblicos, como o do próprio Jesus e dos apóstolos, que também enfrentaram falsas acusações diante do mesmo conselho. A situação de Estêvão era crítica, pois ele estava sozinho diante de uma multidão hostil e de um tribunal já inclinado contra ele. Em vez de se defender, Estêvão faz um sermão que é tanto uma defesa quanto uma acusação contra seus julgadores. A estratégia dos acusadores é a mesma, ou seja usar testemunhas falsas para distorcer as palavras de um servo de Deus, transformando verdades em acusações de blasfêmia. Estêvão provavelmente ensinava que, com a vinda de Jesus, o Templo físico não era mais o único lugar de encontro com Deus, e que o Messias veio para cumprir, não anular, a Lei de Moisés. Seus oponentes pegaram essas idéias e as adulteraram, fazendo parecer que ele queria destruir o Templo e desrespeitar a Lei. A acusação de que ele queria "mudar os costumes que Moisés os deu" era particularmente potente, pois atacava o próprio alicerce da fé e da identidade judaica. O Templo e a Lei eram o coração do judaísmo, e qualquer um que falasse de mudanças era visto como uma ameaça existencial. No auge da tensão e das falsas acusações, a glória de Deus se manifesta no rosto de Estêvão. A conexão com Moisés no Monte Sinai é a mais evidente e cheia de simbolismo. Aquele que estava sendo acusado de blasfemar contra Moisés, de repente, reflete a mesma glória que Moisés refletiu após estar na presença de Deus. Isso era um sinal divino irrefutável de que Estêvão não apenas estava falando a verdade, mas que ele estava do lado de Deus. A sua aparência era um testemunho silencioso, mas poderoso, de que ele estava no caminho certo, mesmo que o resultado final fosse a morte. Essa visão da glória de Deus em Estêvão, assim como a "plenitude do Espírito", era o preparo para o que viria a seguir. Era a confirmação de que ele estava totalmente em sintonia com Deus e pronto para ser a primeira testemunha de Cristo a derramar seu sangue.
4. ESTEVÃO, O MÁRTIR QUE VENCEU A MORTE, COM GRANDE VITÓRIA.
Atos 7.54 — E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele. Atos 7.55 — Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus, Atos 7.56 — e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus. Atos 7.57 — Mas eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele. Atos 7.58 — E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. Atos 7.59 — E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. Atos 7.60 — E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.
Estêvão usou a história de Israel não apenas para se defender, mas para demonstrar que a rejeição de Jesus era o ponto culminante de uma longa tradição de rebelião. Ele acusa seus ouvintes de fazerem o mesmo que seus antepassados: rejeitar os mensageiros de Deus. Estêvão começa seu sermão falando de Moisés, o grande libertador, para mostrar que até mesmo ele foi rejeitado por Israel. Isso foi uma resposta direta à acusação de que Estêvão blasfemava contra a Lei de Moisés. Ele estava, na verdade, defendendo o legado de Moisés e mostrando que os verdadeiros violadores da Lei eram seus acusadores. Ao chamar Jesus de "o Justo", Estêvão utiliza um título messiânico que aponta para a perfeição e justiça de Cristo, contrastando-a com a traição e o assassinato de seus ouvintes. Ele os confronta com a verdade de que a rebelião deles não era apenas contra os profetas, mas contra o próprio Messias de Deus. Enquanto a multidão se entrega à fúria incontrolável, Estêvão permanece em total paz, cheio do Espírito Santo. Essa calma sobrenatural não é apenas um traço de caráter, mas um sinal do poder de Deus atuando nele. A visão do céu é o clímax da sua história e o momento de sua maior vitória. Em vez de focar na violência ao seu redor, ele mantém os olhos em Deus e recebe uma visão de glória. Normalmente, a Bíblia descreve Jesus sentado à direita de Deus, um símbolo de sua obra consumada e de sua autoridade. O fato de Ele estar em pé sugere uma atitude de prontidão e atenção. É como se Ele se levantasse de seu trono para dar as boas-vindas ao seu primeiro mártir. Essa visão é a prova final de que o sacrifício de Estêvão não foi em vão. Para os primeiros cristãos que leram o livro de Atos, a história de Estêvão serviu como um poderoso lembrete de que, mesmo quando o mundo os rejeitasse e os perseguissem até a morte, eles não estariam sozinhos. Pelo contrário, estariam sob o olhar atento e amoroso do seu Salvador, que os esperava de braços abertos. A morte de Estêvão se torna, então, um testemunho vivo da ressurreição e da glória de Cristo. "Tapando os ouvidos" e "gritando com grande voz": Este é o ato de quem não quer ouvir a verdade. As palavras de Estêvão eram tão incômodas e convictas que a multidão preferiu se silenciar e se isolar da mensagem a ter que confrontá-la. O grito serviu para abafar a voz de Estêvão e impedir que a verdade dele pudesse ter mais impacto. Eles se arremeteram unânimes contra ele e a sua fúria individual se transformou em uma ação coletiva e coordenada, uma indicação de que o ódio os unia em uma só vontade. Expulsando-o da cidade" a lapidação, como forma de execução, era legalmente realizada fora das portas da cidade. No entanto, aqui, a ação não foi a de um tribunal, mas de uma multidão furiosa que, em sua violência, assumiu o papel de juiz e carrasco. Essa cena é o auge da rejeição do povo. Eles não apenas rejeitam Estêvão, mas, por meio de sua reação, rejeitam o próprio Espírito Santo que falava através dele. A violência retratada é uma clara demonstração de que a justiça e a razão foram totalmente abandonadas em favor de uma paixão cega e mortífera. Este é um momento crucial em que a história de Estêvão se conecta com a de Saulo. É uma das ironias mais poderosas da Bíblia. Lucas, com grande habilidade literária, introduz um personagem que está no ponto mais baixo de sua história — aprovando a morte de um homem inocente — para se tornar o maior herói da fé cristã. O fato de Saulo estar "cuidando das vestes" não é um detalhe trivial. Simboliza seu total apoio e participação na execução. Ele era, na sua mente, um defensor zeloso da lei, agindo em nome de Deus para combater o que considerava uma heresia. Ele não era apenas um espectador, mas um cúmplice voluntário, aprovando a violência em seu coração. O martírio de Estêvão se torna o ponto de virada para a igreja e, mais tarde, para o próprio Saulo. A semente da fé que Estêvão plantou com sua morte floresceu de maneira surpreendente. O homem que testemunhou e aprovou o apedrejamento de Estêvão viria a se tornar o Apóstolo Paulo, que sofreria as mesmas perseguições pelo mesmo Cristo que ele uma vez odiou. Não podemos deixar de fazer uma observação sobre a mudança de nome de Saulo (hebreu) para Paulo (grego) o que também é muito importante. Ela marca a transição de seu ministério, de um judeu que perseguia os cristãos, ele se tornou o maior missionário aos gentios. A morte de Estêvão se torna, assim, o início da missão de Paulo, e o sangue do primeiro mártir se transforma na semente do Evangelho que seria espalhado por todo o mundo conhecido. As suas últimas palavras são a prova definitiva de que ele havia internalizado a mensagem e o exemplo de Cristo. As duas declarações finais de Estêvão são de fato fascinantes e cheias de significado: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito." Essa oração é um dos maiores testemunhos da divindade de Cristo na Bíblia. Enquanto Jesus, em seus momentos finais, se dirigiu a Deus Pai, Estêvão, em sua própria morte, se dirigiu diretamente a Jesus, entregando seu espírito a Ele. Isso mostra que, para Estêvão, Jesus não era apenas um profeta ou um mestre, mas seu Senhor e Salvador, a quem ele podia confiar sua alma. "Senhor, não lhes imputes este pecado." Esta é a essência do amor e do perdão cristão. Em meio à dor e à injustiça de sua morte, Estêvão escolheu não amaldiçoar seus agressores, mas orar por seu perdão. Ele imitou perfeitamente o seu Mestre, que na cruz orou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." A vida de Estêvão começou com a humildade do serviço, foi marcada por um ministério poderoso e culminou em uma morte que se tornou um espelho da morte de Cristo. Seu martírio não foi um fim trágico, mas um ato final de adoração e um testemunho vivo do poder do Evangelho. Por meio de sua morte, ele não apenas selou sua fé, mas também plantou a semente que, ironicamente, levaria à conversão de Saulo, o homem que aprovou sua execução.
Pastor Adilson Guilhermel