Lição 03 - UMA
IGREJA FIEL À PREGAÇÃO DO EVANGELHO
Texto Áureo:
At 3.12 E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos
maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria
virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?
Leitura
Bíblica em Classe: Atos 3.11-19
Introdução: Uma igreja fiel à pregação do Evangelho é aquela que
coloca a Palavra de Deus no centro de suas ações, vivendo e proclamando a
mensagem da salvação em Jesus Cristo. Essa fidelidade se apoia em pilares
essenciais: fundamentação bíblica, centralidade em Cristo, clareza na
comunicação, poder transformador da mensagem, relevância cultural sem
comprometer a verdade, e dependência do Espírito Santo através da oração.
Quando
fiel ao Evangelho, a igreja impacta profundamente a sociedade, promovendo
salvação, transformação e edificação. A fidelidade à pregação não é opcional,
mas essencial para a missão da Igreja no mundo.
O
maior desafio para as igrejas hoje é manter a fidelidade à sã doutrina. Em um
tempo de relativismo moral, pressões culturais e tendências que tentam moldar a
mensagem do Evangelho, perseverar na verdade das Escrituras exige firmeza,
discernimento e compromisso com a Palavra de Deus, sem ceder a modismos ou
distorções que afastam da essência do Evangelho de Cristo.
1. A CURA DO COXO. PEDRO DIZ: NÃO POR NÓS, MAS POR DEUS.
Atos 3.11 E,
apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo o povo correu atônito
para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão. Atos 3.12 E quando Pedro viu
isto, disse ao povo: Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por
que olhais tanto para nós, como se por nosso próprio poder ou santidade
fizéssemos andar este homem?
A
Colunata Oriental do Templo, possivelmente o Pórtico de Salomão, foi o palco do
notável sermão de Pedro. Naquela ocasião, o apóstolo não apresentou uma nova
doutrina, mas sim revelou a essência do evangelho como a culminação das
revelações proféticas concedidas ao povo de Deus. Ele argumentou que o que lhes
foi dado para pregar era, de fato, a "nata" de tudo o que os profetas
já haviam transmitido.
Pedro,
diante da multidão atenta, esclareceu que o milagre da cura do coxo presenciado
por eles não era fruto de sua própria santidade, mas sim uma ação direta de
Deus, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O objetivo desse milagre era glorificar
a Jesus, o Filho de Deus, exaltando-o como o Servo de Yahweh profetizado em
Isaías.
A
Transformação de Pedro
A
transformação de Pedro é um dos aspectos mais marcantes dessa narrativa. Antes
do Pentecostes, ele era impulsivo, por vezes medroso, e não totalmente
compreensivo dos desígnios divinos. No entanto, após a força e iluminação
comunicadas no Pentecostes, Pedro se tornou um orador ousado, um líder
destemido e um evangelista poderoso. A mudança foi tão extraordinária que ele,
que havia negado Jesus três vezes, agora proclamava Sua ressurreição e senhorio
publicamente, sem temor.
A
plenitude que Pedro experimentou não foi um privilégio exclusivo dele, mas sim
o resultado da entrega e da recepção do Espírito Santo.
Essa plenitude
se manifesta em: Ousadia na Proclamação e a
capacidade de falar com convicção e clareza sobre a fé, mesmo diante da
oposição.
Compreensão
Aprofundada: Uma percepção mais profunda das
Escrituras e dos propósitos de Deus.
Capacitação
para o Serviço: A força para cumprir a missão que
nos é confiada, superando medos e limitações.
Vida
Transformada: Uma mudança interior que reflete o
caráter de Cristo em todas as áreas da vida. A experiência de Pedro nos convida
a refletir sobre nossa própria busca por uma plenitude espiritual. Ela nos
lembra que o poder transformador do Espírito Santo está disponível para todos
que O buscam com sinceridade.
Humildade e
Destemor Inspiradores
A
passagem destaca a humildade de Pedro ao reconhecer que o poder em ação não era
dele, mas de Deus. Essa atitude contrasta com o destemor com que ele proclamou
a verdade, mesmo diante daqueles que haviam crucificado Jesus. É um lembrete
poderoso de que a verdadeira força reside na dependência divina e que a fé
genuína nos capacita a enfrentar qualquer oposição, glorificando a Deus acima
de tudo.
2. PEDRO
ESCLARECE SOBRE A IGNORANCIA DO POVO.
Atos 3.13 O
Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu
filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo
ele determinado que fosse solto. Atos 3.14 Mas vós negastes o Santo e o Justo,
e pedistes que se vos desse um homem homicida. Atos 3.15 E matastes o Príncipe
da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos
testemunhas. Atos 3.16 E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este
que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de
todos vós, esta perfeita saúde. Atos 3.17 E agora, irmãos, eu sei que o
fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes.
Pedro,
em sua pregação poderosa, aborda a ignorância
do povo judeu como um fator crucial na crucificação de Jesus. Ele não
faz isso para condená-los sem esperança, mas para abrir uma porta para o
arrependimento e o entendimento.
A Ação por Desconhecimento
Pedro
explica que tanto o povo quanto seus líderes agiram por ignorância ao entregar e matar Jesus. Isso não minimiza a
gravidade do ato, mas contextualiza-o como um desconhecimento do plano divino.
Eles não reconheceram em Jesus o Messias prometido, o Servo de Yahweh de quem
os profetas haviam falado. Suas expectativas de um Messias conquistador os
cegaram para a humilde chegada e o sacrifício redentor de Cristo.
O Cumprimento das Profecias
Apesar
da ignorância humana, Pedro destaca que a morte de Jesus não foi um acidente,
mas o cumprimento das profecias
do Antigo Testamento. Deus, em Sua soberania, já havia declarado pelos profetas
que Seu Cristo sofreria. Assim, mesmo na cegueira do povo, o plano de Deus
estava se desenrolando.
A Oportunidade para o Arrependimento
Ao
esclarecer a ignorância, Pedro cria uma oportunidade
para o arrependimento. Ele mostra que, embora tenham cometido um erro
gravíssimo, não era tarde demais. O reconhecimento de que agiram sem pleno
conhecimento abre a possibilidade de mudarem
de ideia (metanoeo) sobre Jesus, reconhecendo-O agora como o
Cristo. Essa mudança de perspectiva é o primeiro passo para o perdão e para que
seus pecados sejam "apagados".
Essa
abordagem de Pedro demonstra a compaixão
de Deus, que oferece misericórdia mesmo diante da mais profunda das
ofensas. A ignorância não isenta de culpa, mas a graça de Deus provê um caminho
para a redenção através do reconhecimento, arrependimento e fé em Jesus.
Pedro
confrontou a multidão com a verdade brutal: eles
eram diretamente responsáveis pela morte de Jesus. Ele destacou que, mesmo
quando Pilatos ofereceu libertá-lo, os judeus escolheram Barrabás, um
assassino, selando o destino de Jesus em Jerusalém poucas semanas antes. Pedro
enfatizou que a liderança judaica, que os representava, era culpada por essa
decisão.
A Gloriosa
Concepção de Cristo
Pedro
apresenta uma imagem magnífica de Cristo: o Autor da vida, Santo e Justo. Essa
descrição não só eleva a pessoa de Jesus, mas também ressalta a magnitude de
Sua obra redentora. Reconhecer Cristo nessas dimensões é fundamental para
compreender a essência do Evangelho e a profundidade do sacrifício que Ele fez
por nós.
Compaixão e a
Restauração de Israel
A
compaixão de Pedro pela "ignorância dos judeus" é notável. Ele
compreende que, apesar de terem rejeitado o Messias, ainda eram o povo da
aliança e os primeiros a receber a oferta do Evangelho. A visão de tempos de
restauração para o mundo, vinculada ao arrependimento e restauração de Israel,
aponta para um plano divino que inclui a nação judaica de forma proeminente.
Isso nos lembra da fidelidade de Deus às Suas promessas e da importância de
orar pela paz de Jerusalém e pela conversão do povo judeu.
A Abrangência
do Evangelho e a Transformação Pessoal
Embora
a primeira oferta do Evangelho tenha sido para os judeus como "filhos da
aliança", as amplas provisões dessa mensagem permanecem abertas a todos
nós que, pela fé, nos tornamos herdeiros das promessas feitas a Abraão. Isso
sublinha a universalidade da salvação.
3. O MESSIAS
INEXPERADO E A REVELAÇÃO DE PEDRO.
Atos 3.18 Mas
Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia
anunciado; que o Cristo havia de padecer. Atos 3.19 Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e para que venham
assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor,
A
frase final, "Cristo começa sua obra de abençoar nossa alma fazendo-a
afastar-se do caminho das iniquidades. Converte-nos a ti, Senhor, e seremos
convertidos", é um clamor por transformação. Ela expressa a dependência
humana da graça divina para a verdadeira conversão. Não é apenas uma mudança de
idéias, mas uma virada de vida que nos afasta do pecado e nos volta para Deus.
A bênção de Cristo em nossa alma inicia-se com o arrependimento e a libertação
do domínio da iniquidade.
A passagem
destaca um ponto crucial na compreensão do Evangelho:
a expectativa messiânica dos judeus. Eles aguardavam um Messias glorioso, um
grande governante e rei conquistador, que os libertaria do jugo romano e
restauraria a grandeza de Israel. Essa visão estava enraizada em diversas
profecias que falavam da glória e do reinado do Messias.
No
entanto, a realidade da chegada de Jesus como um humilde carpinteiro e Sua
subsequente morte como um criminoso na cruz chocou profundamente suas
expectativas. Para muitos, a imagem de um Messias sofredor e humilhado era
incompreensível e se distanciava drasticamente do que esperavam. Por isso,
deixaram de reconhecê-Lo como o Cristo prometido. A cruz, para eles, era um
escândalo, não o ápice do plano de salvação.
A Oportunidade
da Graça: "Não Era Tarde Demais"
É
nesse contexto de desilusão e incompreensão que a mensagem de Pedro brilha. Ele
trouxe uma mensagem de esperança e oportunidade, afirmando que "não era
tarde demais". Apesar de terem agido com ignorância, ou seja, sem o pleno
entendimento das profecias e do plano divino, a porta para o reconhecimento e o
arrependimento ainda estava aberta.
Pedro,
iluminado pelo Espírito Santo no Pentecostes, conseguiu explicar que Jesus era,
de fato, exatamente o que havia sido profetizado. Ele ajudou os judeus a
conectar os pontos entre as profecias do Messias sofredor (como as de Isaías
53) e as do Messias glorioso. Jesus não era apenas o Rei que viria, mas também
o Servo Sofredor que morreria pelos pecados do Seu povo. Sua morte e
ressurreição cumpriram as Escrituras de uma forma que eles não haviam previsto.
O
Reconhecimento de Jesus Como o Cristo
A
pregação de Pedro visava levar as pessoas a entender que Jesus era o Cristo.
Isso significava ir além das expectativas culturais e políticas, e abraçar a verdade
espiritual de que Ele era o Ungido de Deus, o Salvador prometido, que veio para
redimir a humanidade por meio de Seu sacrifício. Essa compreensão abriu caminho
para o arrependimento e a fé em Jesus.
Essa
narrativa continua sendo relevante hoje. Muitas vezes, nossas próprias
expectativas sobre como Deus deve agir ou como Sua vontade deve se manifestar
podem nos cegar para a Sua verdadeira obra. A mensagem de Pedro nos convida a
reavaliar nossas concepções, a nos abrir para a revelação de Deus e a reconhecer
Jesus como o Cristo em toda a Sua plenitude, mesmo que Ele não se encaixe em
nossos moldes pré-concebidos.
A Oportunidade
do Arrependimento
Mesmo
tendo rejeitado, desprezado e assassinado Jesus, a mensagem central de Pedro
era de que ainda podiam se arrepender de seus pecados e voltar-se para Deus.
Isso é um testemunho da imensa misericórdia divina. A despeito da gravidade de
seus atos, a porta da salvação não estava fechada. A condição era uma mudança
de ideia quanto a Jesus, reconhecendo-O agora como o Messias e Senhor.
O Significado
de "Arrependei-vos" (Metanoeo)
A
palavra grega tradicional para arrependimento, "metanoeo", é
fundamental aqui. Ela vai muito além de um simples sentimento de remorso. O
verbo significa afastar-se de um antigo modo de vida e voltar-se para um novo.
Isso implica uma transformação completa:
Mudança de
Pensamento: Uma reorientação da mente, abandonando
as concepções erradas sobre Deus e Sua vontade.
Mudança de
Atitude: Uma alteração profunda nos valores e
prioridades.
Mudança de
Direção: Uma virada prática nas ações e no
comportamento, deixando o caminho do pecado para seguir o caminho de Deus.
Portanto,
o arrependimento que Pedro pregava era um convite a uma conversão genuína, que
não era apenas intelectual, mas também existencial.
O Apagar dos
Pecados (Exaleiphthenai)
O
termo "apagar" (exaleiphthenai), frequentemente usado em grego como
uma figura de linguagem, significa literalmente "apagar, especialmente
escritos". Essa imagem é extremamente vívida e poderosa. Pense em um registro
de dívidas ou em uma lista de acusações sendo completamente rasurada ou
apagada.
Quando
Deus "apaga" os pecados, isso significa que:
Não há mais
registro: As transgressões são removidas da memória
divina de modo que não há mais acusação contra a pessoa.
Há um novo
começo: É como se a folha estivesse em branco,
permitindo um novo relacionamento com Deus, livre da culpa e da condenação do
passado.
Completa
remoção: Os pecados não são apenas cobertos, mas
totalmente eliminados, sem deixar vestígios.
Essa
promessa de ter os pecados apagados é a essência do perdão divino, oferecido a
todos que se arrependem e creem em Jesus.
A
mensagem de Pedro nos lembra que a misericórdia de Deus é maior do que qualquer
pecado, e que o arrependimento genuíno abre as portas para uma transformação
radical e um perdão completo. O que essa compreensão do arrependimento e do
"apagar" dos pecados significa para a forma como vemos as nossas
próprias falhas.
Pastor
Adilson Guilhermel