LIÇÃO 02 - A IGREJA DE JERUSALÉM - UM MODELO A SER SEGUIDO

 Lição 02 - A IGREJA DE JERUSALÉM - UM MODELO A SER SEGUIDO

 

Texto Áureo: At 2.42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

 

Leitura Bíblica em Classe: At. 2.37-47

 

Introdução: Igreja organismo ou organização. É preciso compreender perfeitamente a distinção e   ênfase na "igreja organismo" em oposição à "igreja organização". A colocação que faço é crucial para uma compreensão mais profunda do que a Igreja Primitiva de Jerusalém realmente representa como modelo.

De fato, quando falamos do modelo a ser seguido, não se trata de replicar estruturas denominacionais ou burocráticas, mas sim a essência da igreja como o corpo de Cristo, onde cada crente é um membro vital e o próprio Cristo é a cabeça. A beleza da Igreja de Jerusalém, nesse sentido, reside na manifestação como um organismo vivo, caracterizado por:

·        Unidade em Cristo: A ausência de divisões, como estou apontando que é fundamental para nós como igreja. O corpo de Cristo é um, e as divisões enfraquecem o testemunho e a eficácia da igreja. A unidade que observamos em Atos não era meramente organizacional, mas uma unidade de espírito, propósito e amor, impulsionada pela fé comum em Jesus.

·        Comunhão Genuína: A partilha, o cuidado mútuo e a vida em comunidade eram expressões orgânicas dessa união. Não era uma regra imposta, mas o fluir natural de corações transformados que viam uns aos outros como irmãos e irmãs em uma mesma família espiritual.

·        Fé Vibrante e Ativa: A fé não era apenas uma crença intelectual, mas uma força que impulsionava a oração, o ensino, o testemunho e a ação. Era uma fé que se manifestava em vida e que atraíam outros para Cristo.

·        Cristo como o Cabeça: A liderança dos apóstolos era reconhecida, mas a autoridade final e a direção vinham de Cristo, o Cabeça do corpo. Isso assegurava que a igreja permanecesse focada em sua missão e propósito divinos.

Portanto, o modelo a ser seguido é, como podemos ressaltar, um modelo de fé e comunhão sem divisões, onde o amor de Cristo une os membros e os capacita a funcionar como um corpo coeso e eficaz para a glória de Deus. É um chamado para que cada crente, individualmente, viva essa realidade de fé e comunhão, contribuindo para a saúde e o crescimento de todo o corpo de Cristo. Aqui tocamos em um ponto extremamente relevante e, para muitos, doloroso: a dissonância entre o modelo da igreja primitiva, como o corpo unificado de Cristo, e a realidade das diversas denominações e suas particularidades ao longo da história.

 

Faço aqui uma observação que é muito pertinente. A igreja primitiva, em sua essência como organismo, realmente representava um ideal de unidade e identificação com o genuíno corpo de Cristo. A fé era o elo comum, e a comunhão se manifestava de forma orgânica, sem as barreiras que, infelizmente, se ergueram com o tempo.

 

A proliferação de denominações, com seus dogmas, costumes e doutrinas diferenciadas, é um fato inegável na história do cristianismo. Essa fragmentação, muitas vezes, leva à perda daquela identificação clara com o "corpo de Cristo" que menciono, pois as ênfases em particularidades podem obscurecer a unidade fundamental em Jesus.

 

É um desafio constante para a igreja contemporânea buscar essa unidade que a igreja primitiva exemplificou, reconhecendo que, apesar das diferenças superficiais, o que nos une em Cristo é infinitamente maior e mais significativo. O ideal continua sendo o corpo de Cristo indiviso, onde a fé e a comunhão prevalecem sobre quaisquer distinções criadas pelos homens.

 

1. O APELO DE PEDRO NO DIA DE PENTECOSTE;

At. 2.37 E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? At. 2.38 E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, em remissão de pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; At. 2.39 Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.

Aqui descreve-se vividamente o Apelo de Pedro no Dia de Pentecostes, um momento verdadeiramente transformador na história da Igreja. Faço aqui uma análise que é muito perspicaz ao destacar a amplitude e a imediaticidade do convite ao arrependimento e ao recebimento do Espírito Santo.

 

O Poder Transformador do Pentecostes

A mensagem de Pedro, conforme relatada em Atos 2, é um testemunho poderoso da graça inclusiva de Deus. Quando ele declara "Cada um de vós!", não há espaço para exceções baseadas em grau de pecado ou em qualquer outro critério humano. Quer a pessoa tenha pregado os cravos, ferido o lado de Cristo, ou tenha se afundado em qualquer outra transgressão, o chamado ao arrependimento é universal e a promessa de perdão e do Espírito Santo é para todos que respondem com fé.

 

É notável, como se aponta, que não houve um "longo noviciado" entre o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo. O versículo 38 de Atos 2 é claro: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo." Ambos os elementos – perdão e o dom do Espírito – são apresentados como consequências diretas da resposta ao evangelho, sublinhando a generosidade e a prontidão de Deus em conceder Sua graça e Seu poder.

 

A Inclusão Universal da Promessa

Além disso, sua referência ao versículo 39 é crucial para entender a natureza expansiva da promessa: "Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que estão longe, para todos quantos o Senhor, nosso Deus, chamar." Este versículo rompe as barreiras culturais e geográficas, indicando que a plenitude do Espírito não é reservada apenas aos judeus, mas se estende aos gentios que estão "longe". A promessa é para "todos quantos Deus chamar" – um convite aberto, acessível pela palavra e pela graça de Deus que opera no íntimo de cada indivíduo.

 

Foi dessa "multidão heterogênea", composta por pessoas de diferentes origens e com variados históricos de pecado, que surgiu a Igreja primitiva. Isso reforça a idéia de que a igreja como o corpo de Cristo é formada por todos os que são chamados e respondem ao evangelho, independentemente de seu passado, e que a unidade é forjada pela fé em Cristo e pela habitação do Espírito Santo.

 

2. A VIDA TRANSFORMADA DOS PRIMEIROS CRENTES.

At. 2.40 E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. At. 2.41 De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas, At. 2.42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

Vemos aqui a essência do que aconteceu com os primeiros convertidos após o Pentecostes! É uma descrição muito rica da vida daquela Igreja primitiva, ressaltando como a conversão a Cristo transformou não apenas sua fé, mas também sua vida em comunidade.

 

A Vida Transformada dos Primeiros Crentes

É fundamental entender que, uma vez instruídos e cheios do Espírito, esses novos crentes não permaneceram isolados. Pelo contrário, eles passaram a ter uma profunda comunhão com os apóstolos e, por extensão, uns com os outros. Esse é um princípio vital do cristianismo: ao nos unirmos a Cristo, somos automaticamente integrados à Sua família, o que significa que nos tornamos um com todos os que Lhe pertencem. A unidade não é um mero ideal, mas uma realidade espiritual.

 

Mesmo após a conversão, eles não abandonaram suas raízes. Continuavam a se reunir no Templo, que era um centro de vida judaica e religiosa, mas agora com uma perspectiva renovada. Eles viam um "novo significado nos antigos ritos", compreendendo que as leis e cerimônias do Antigo Testamento apontavam para Cristo e encontravam Nele seu cumprimento. Isso demonstra uma transição gradual e uma apropriação dos símbolos religiosos de sua cultura dentro da nova fé.

 

Além disso, a transformação se estendeu para suas casas e refeições diárias. A vida cotidiana, antes talvez rotineira, assumiu um "nível mais elevado". As refeições se tornaram momentos de comunhão e celebração da presença de Cristo, como a partilha do pão em lembrança do Senhor. Isso mostra que a fé cristã não se restringe a rituais religiosos, mas permeia e eleva todos os aspectos da vida.

 

E, como resultado dessa vida vibrante e autêntica, a igreja experimentava um crescimento contínuo. "Cada dia eram acrescentados ao grupo aqueles que tinham experimentado o poder salvador de Cristo." O testemunho de suas vidas transformadas, somado à pregação do evangelho, era um imã que atraía mais pessoas para a fé.

 

Essa dinâmica da Igreja primitiva, com sua profunda comunhão, adoração em novos e antigos formatos, e impacto na vida diária, realmente serve como um modelo inspirador para os crentes de hoje.

 

3. A IGREJA PRIMITIVA COMO MODELO PERPÉTUO.

At. 2.43 E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. At. 2.44 E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. At. 2.45 E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. At. 2.46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, At. 2.47 Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.

É muito útil uma elucidação sobre o termo grego "phobos" para temor. Aqui fica bem explicado, embora literalmente signifique "medo", no contexto de Atos 2:43, ele carrega a nuance de um assombro reverente e profundo respeito diante da manifestação sobrenatural de Deus. Não é um medo de punição, mas uma admiração paralisante diante do poder divino.

 

A distinção  entre "maravilhas" (teratá) e "sinais" (semeia) é igualmente importante:

 

As maravilhas (teratá) eram, de fato, os milagres espetaculares que evocavam assombro e admiração naqueles que os presenciavam. Eram eventos extraordinários que capturavam a atenção.

 

Os sinais (semeia), por sua vez, tinham um propósito mais profundo. Eles autenticavam a mensagem e o mensageiro, direcionando os observadores para uma fonte divina por trás do milagre, confirmando a verdade de que Deus estava agindo através dos apóstolos. Juntos, esses fenômenos estabeleciam a autoridade divina da pregação apostólica.

 

O Contexto da Partilha de Bens e Comunhão

Uma análise do contexto da partilha de bens é crucial para entender essa prática. É muito provável, como podemos observar que muitos dos peregrinos que vieram a Jerusalém para o Pentecostes (e talvez já estivessem lá desde a Páscoa) tivessem prolongado sua estadia. Isso geraria uma necessidade real de assistência financeira e física, pois eles estariam longe de seus lares e recursos habituais.

 

A prática de vender propriedades e bens para repartir com todos, "segundo cada um tinha necessidade", era uma resposta prática e compassiva a essas demandas específicas. Isso reforça a idéia de que não era um sistema econômico imposto, mas uma manifestação orgânica de amor e solidariedade diante das necessidades concretas da comunidade. A comunhão não era apenas teórica, mas vivida de forma sacrificial.

 

Finalmente, a dualidade dos locais de reunião que destacamos — o Templo e as casas — é um retrato fiel da vida daquela igreja.

 

No Templo, a multidão maior podia se reunir para ouvir os ensinamentos dos apóstolos, participando de uma forma mais pública e tradicional de adoração.

 

Nas casas, a vida comunitária se aprofundava: partir o pão (seja em refeições comuns ou na celebração da Ceia do Senhor), ter comunhão íntima, atender às necessidades uns dos outros de forma mais direta e a prática da oração em grupos menores.

 

Essa combinação de grandes reuniões públicas e encontros menores e mais pessoais eram essenciais para o crescimento e a vitalidade da Igreja Primitiva. Eles souberam equilibrar o ensino massivo com a formação de laços profundos de comunidade.

 

Apesar dos desafios e das inevitáveis imperfeições humanas que surgiram até mesmo naquela comunidade inicial, a Igreja de Jerusalém oferece um ideal pelo qual a igreja de todos os séculos deve se esforçar. Ela nos convida a ir além das estruturas e dogmas que, por vezes, nos dividem, e a retornar aos princípios fundamentais de uma fé que une, transforma e glorifica a Cristo como o único Cabeça de Seu corpo.

 

Que a sua busca por essa compreensão mais profunda da Igreja Primitiva inspire e fortaleça a sua própria fé e sua participação no corpo de Cristo hoje.

 

Pastor Adilson Guilhermel


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